quarta-feira, 30 de maio de 2012

SÃO BENEDITO: Escola premiada apresenta problemas de infraestrutura


Na Escola de São Benedito, sala de aula funciona na área de entrada da unidade FOTO: JÉSSYCA RODRIGUESSituada na zona rural de São Benedito, a Escola Francisco Rodrigues de Medeiros tem condições físicas precárias
São Benedito
Com notas boas, mas uma estrutura nem tanto, uma escola neste Município despertou curiosidade por uma realidade paradoxal: uma escola que funciona com estrutura precária onde antes era uma residência foi agraciada com o Prêmio Escola Nota 10 por dois anos consecutivos pelo Governo do Estado. O prêmio é dado para escolas-referência em educação de seus alunos com base nas notas do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica.

A Escola de Ensino Fundamental Francisco Rodrigues de Medeiros não tem biblioteca, e também para outras carências os professores dizem que tentam suprir na base da "força de vontade". A Secretária Estadual de Educação, Izolda Cela, prefere destacar o resultado positivo do processo "ensino-aprendizagem", em que o empenho professor-aluno consegue fazer a diferença. Especialistas reclamam que a carência em infraestrutura e no rendimento dos professores geram um potencial reprimido no ensino.

O que é essencial na escola? A pergunta foi levada para especialistas e para a própria Seduc depois que a Escola de Ensino Fundamental Francisco Rodrigues de Medeiros, em São Benedito, obteve resultados melhores do que centenas de outras escolas do Ceará no quesito alfabetização dos alunos até o 2ºano do Ensino Fundamental. A escola não tem biblioteca, não tem quadra esportiva nem área de lazer. A própria entrada serve de extensão para uma sala de aula, dado a demanda de estudantes. Um dia desses não havia bebedouro.

Izolda Cela prefere ressaltar "aquilo que é fundamental e absolutamente essencial na educação, que é o resultado do trabalho. O esforço da direção, da gestão das escolas, dos professores e das famílias, que certamente dão sua importante contribuição". Ela acrescentar que "com isso não podemos dizer que a infraestrutura não seja importante. No entanto, eu acho que uma situação dessa (a escola em São Benedito) dá uma lição importante de dizer que nós não precisamos das condições ideais para mostrar o serviço importante, que é a criança aprender".

A dona de casa Oscarina Maria Costa, que teve os filhos estudando lá da creche ao 9º ano e agora tem uma neta, comenta que há um bom envolvimento da escola com a família. A Escola Municipal de Ensino Básico Francisco Rodrigues de Medeiros fica na comunidade de Sítio São Vicente, a 6km da sede municipal. Para a coordenadora Verônica Rodrigues de Lima, que seria uma das responsáveis pela boa avaliação da escola, a estrutura é bastante limitada. "Algumas salas foram divididas em duas para podermos acolher os alunos". Para ter acesso à biblioteca, os alunos necessitam que um carro da Prefeitura Municipal os leve até a biblioteca municipal no Centro da cidade. Mesmo com as limitações, coordenadora e alunos se consideram ali como "uma família".

O professor Wagner Andriola questiona o apontamento da Seduc sobre não existir relação de causa e efeito entre ótima estrutura e ótimo aprendizado. "Educar criança não é só a parte de aprendizagem de conteúdos na sala, tem a parte cognitiva, afetiva, a de relação com os professores, a parte psicomotora. Se de fato não existe relação entre causa e efeito nessa escola física e aprendizagem, não significa que coloquemos a pessoa debaixo do sol e façamos formação, nem que possamos ter escolas aquilatadas dessa educação física". Andriola é mestre em Psicologia, doutor em Filosofia e Ciências da Educação, professor associado da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

A secretaria admite que, em termos gerais, a "base escolar não está sendo nem minimamente ainda atendida". "Mas estamos perseguindo isso. Ainda estamos na peleja para torná-las com uma estrutura descente. Inclusive estive no Ministério da Educação, conseguimos e muitos Municípios conseguiram (recursos) para construção de escolas. Tenho experiência de Município e sei que muitas vezes o Município não dá conta. Mas essas escolas recebem um prêmio, que pode e deve ser revertido em benefício da escola. Algumas delas é um bom dinheiro, que muitas vezes nunca viram um investimento. E muitas delas tem escolas que com o dinheiro montam uma biblioteca, constrói salas. Se você for filtrar o essencial da missão de uma escola, o que é: ensinar os alunos", pontuou.

A secretária diz reconhecer que o salário dos professores está em um patamar muito distante do "ideal", "embora na rede estadual nós temos um desafio, que é nesse momento melhorar o salário inicial do professor. O orçamento dos Estados e Municípios não é possível fazer incrementos rigorosos, mas no final do ano a gente expandiu o comprometimento com o salário".

De acordo com Tereza Celma, coordenadora do Programa Alfabetização na Idade Certa (Paic) em São Benedito, a Escola Francisco Rodrigues de Medeiros recebeu R$ 43 mil, referente a 70% do Prêmio Escola Nota 10 do ano de 2010.

A parcela foi usada para compra de equipamentos, móveis, bonificação aos professores, gastos com viagem de servidores em parceria com escola de Canindé, material didático e material de expediente. Quanto ao prêmio de 2011, o repasse ainda será feito, com depósito diretamente na conta da escola.

Mais informações:
Secretaria de Educação do Estado - (85) 3101.3972
Secretaria de Educação de São Benedito (88)3626.2758

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