segunda-feira, 21 de novembro de 2011

FORTALEZA É A 3ª CAPITAL COM MENOS FUMANTES


A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o cigarro a principal causa de morte evitável no mundo

O comerciante José Mauro Guimarães Pinheiro, 52 anos, tragou um cigarro pela primeira vez aos 18 anos. O que começou como brincadeira de adolescente foi crescendo e de repente ele já estava fumando três maços de cigarro por dia. "O vício era tão grande que não conseguia fazer nada sem o cigarro. A doença tomou conta de mim de uma maneira que passei a levar comigo três carteiras de cigarro, uma no bolso da camisa, outro no bolso da calça e outra na meia, o cigarro me dominava".

Por insistência das filhas e diante dos efeitos do tabaco no organismo que o deixavam cansado e depressivo, ele decidiu parar de fumar. Procurou ajuda, se inscreveu no Programa de Controle de Tabagismo que funciona no Hospital Dr. Carlos Alberto Studart (Hospital de Messejana), seguiu o tratamento à risca, frequentou todos os encontros e está há três meses sem fumar. "Nunca imaginei que um dia eu poderia me livrar desse vício, foram 34 anos dependente da nicotina, mas a minha força de vontade aliada ao tratamento e a ajuda de profissionais competentes me fez alcançar essa vitória, hoje tenho uma vida bem melhor e saudável", diz.

A decisão de José Mauro e de outros ex-fumantes, colaborou com a estatística que classifica Fortaleza a terceira capital com menos fumantes no País. Segundo dados da pesquisa do Vigitel Brasil 2010, realizada pelo Ministério da Saúde, o percentual de adultos fumantes na Capital é de 11% ficando empatado com Aracaju e atrás apenas de São Luiz no Maranhão, que possui 10% da população fumante e Salvador na Bahia que ocupa o primeiro lugar com 8% da população fumante.

A Capital está também abaixo da média nacional a qual indica que 15% da população brasileira é fumante. Ainda de acordo com a pesquisa Vigitel as cidades onde há a prevalência de mais fumantes são: Porto Alegre, São Paulo e Rio Branco, todas com 20% da população adulta fumante.

Para a pneumologista e coordenadora do Programa de Controle de Tabagismo do Hospital de Messejana, Penha Uchôa, o vício do cigarro pode acarretar cerca de 50 outras doenças. Segundo ela, a maioria dos casos que chega ao hospital de infartos, enfisema pulmonar ou câncer de pulmão está ligada diretamente ao tabagismo.

Ainda de acordo com a pneumologista, o tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de morte evitável em todo o mundo. A OMS estima que um terço da população mundial adulta, isto é, 1 bilhão e 200 milhões de pessoas (entre as quais 200 milhões de mulheres), sejam fumantes. O total de mortes devido ao uso do tabaco atingiu a cifra de 4,9 milhões por ano, o que corresponde a mais de 10 mil mortes por dia.

A empresária Marilena Peixoto, 61 anos, sente na pele as consequências de um vício que já dura 33 anos. Hoje, ela luta contra uma doença chamada retinopatia que ocasiona a perda total da visão e uma neuropatia que a faz sentir fortes dores nas pernas. Por conta desse cenário e devido a pedidos dos filhos e da neta há uma semana ela decidiu parar de fumar. "Tive recomendações médicas para fazer um tratamento. Hoje, estou usando o adesivo com nicotina que está me ajudando muito. Minha neta que não me abraçava pois sentia o cheiro do cigarro, agora diz que estou cheirando a flor", conta.



Atualmente, dos 236 pacientes que estão em atendimento na unidade, 162 são mulheres e 74 são homens

Desde de 2002, o Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes desenvolve o programa de combate ao tabagismo com o objetivo de tratar com medicamentos e ajuda psicológica pessoas que desejam parar de fumar. Até hoje, a unidade tratou 2.012 pacientes e disponibiliza 200 vagas por semestre para novos pacientes. Porém, segundo a pneumologista e coordenadora do programa no hospital, Penha Uchôa, as vagas não atendem à demanda. Atualmente, 350 fumantes estão em uma fila de espera por tratamento na unidade.

É o caso do auxiliar de eletricista Cícero Tarciano Silva, 37 anos, que há cinco meses aguarda por uma vaga no programa. Fumante há 24 anos, ele diz que apesar de não suportar mais o odor da nicotina, não consegue largar o cigarro. A situação agravou ainda mais quando ele sofreu um acidente de trabalho e ficou com sequelas nas pernas. Impossibilitado de trabalhar há nove anos, a ociosidade fez com que ele dobrasse o consumo do cigarro. "Antes eu fumava dois maços por dia e passei a fumar quatro. Nos últimos meses estou tentando parar por conta própria, mas sem o uso de medicamentos está muito difícil".

Ele conta que está cansado de fumar e diz que sente muita falta de ar, porém, as condições financeiras não permitem que ele compre os medicamentos, que são muito caros. Para Cícero Silva seria fundamental a criação de outros centros de apoio a fumantes, tanto na Capital como no interior do Ceará. "A espera pelo tratamento é terrível, nós fumantes ficamos muito ansiosos. Acho que o serviço deveria ser mais descentralizado, abrindo mais postos para o interior do Estado", diz.

Penha Uchôa destaca que a procura por vagas é bem maior do que a oferta, pois as outras unidades que também desenvolvem o programa não funcionam a contento. Conforme a pneumologista, cerca de 70% das pessoas que procuram o tratamento do hospital vão por desejo próprio, os demais por recomendações médicas.

Segundo a pneumologista, para entrar no programa o fumante precisa passar por um processo de triagem para verificar se existem doenças relacionadas, contra-indicação de medicamentos e, ainda, o grau de dependência

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